sábado, 21 de abril de 2012

Grécia, a origem dos Quatro Elementos




Orfeu em sua jornada do submundo a luz. 
O sono, o sonho e o êxtase
são as três portas abertas sobre o Além,
donde nos vem a ciência da alma
e a arte da adivinhação.
A evolução é a lei da Vida.
O Número é a lei do Universo.
A Unidade é a lei de Deus. 
- Édouard Schuré sobre os Mistérios Oríficos.

A base do Ocultismo consiste em compreender o Ser Humano como ele realmente é, uma imagem e semelhança de Deus. Esse compreendimento não se prender a dogmas, e preza pela Fé e pela Razão. O estudo do ser humano é então o ponto central que gira em torno da inscrição hermética: "O que é inferior é como o que é superior, e o que é superior é como o que é inferior". O que se aplica ao Universo se aplica ao homem, e vice-versa. Estudar e compreender o Homem é estudar o Universo, a Natureza, e por consequência a Deus.

No primeiro post vimos a importância da liberdade, no segundo post os princípios matemáticos e lógicos sobre algumas correspondências humanas em relação ao Macrocosmo. Hoje veremos a origem dos quatros elementos básicos e sua representação.

Mistérios na Grécia

Gilgamesh. o mais famoso
heróis sumério.
A filosofia ocidental vem sendo desenvolvida, até onde de sabe, pelos últimos 6000 anos, e quando digo "filosofia" me refiro aos grandes Iniciados e Sacerdotes através do tempo que observaram (e observam ainda hoje) o fluxo da natureza e do ser humano. Através dessas observações foram criados os conhecimentos matemáticos e simbólicos entre os sumérios em 4000 a.C, deixando então esse conhecimento de legado as civilizações que dela levaram o conhecimento e histórias mitológicas, como O Grande Dilúvio, o Triângulo de Pitágoras, as constelações, os doze signos e as estações, o movimento dos planetas, e também os quatro elementos, por exemplo.

Boa parte das pessoas acham que todo esse conhecimento veio das escolas da antiga Grécia, o que é um engano. Os sábios gregos muitas vezes se utilizaram de um conhecimento mais antigo. O que eles muito fizeram foi aperfeiçoar e criaram um método de transmitir esse conhecimento para gerações futuras. O resultado desse trabalho é a nossa filosofia ocidental que estudamos até hoje no colégio e nas faculdades. Diferente das filosofias anteriores, que por sua maneira simbólica e de difícil aprendizado (e muitas vezes não mais aplicadas a nossa sociedade) não são mais estudadas pela sociedade comum. Ou seja, os gregos fizeram um ótimo trabalho. Os mistérios Pitagóricos, os mistérios Oríficos, mistérios Elêusis, são os principais e de grande influência a todos os pensadores gregos.

Entenda por mistério algo que não era aberto ao público, e sim restrito a poucos, que eram os maiores pensadores e seus discípulos. A população contemplava somente alguns dos resultado dos círculos internos desses Mistérios, quando esses eram escritos ou ensinados publicamente. E muitas vezes ainda eram velados através dos símbolos mitológicos, que só aqueles que sabiam interpretar que os entenderiam. Fazendo uma analogia, os mistérios são nossas Ordens fechadas como a Maçonaria, Martinismo, Rosa Cruz, e os ensinamentos dados ao público são as notas musicais, ciclo dos equinócios para fazer a plantação e a colheita, por exemplo.

No post anterior vimos a influência dos mistérios pitagóricos contado por Pato Donald, usado por nós para mostrar o reflexo do Homem no Universo/Deus pela lógica matemática e geométrica, método de estudo e pesquisa dos pitagóricos. Hoje veremos sobre os mistérios Oríficos. Com o tempo faremos posts complementares sobre cada um desses Mistérios e suas relações e influências com as religiões modernas e Ordem Iniciáticas.

Orfeu, apaixonado por Eurídice, desce até o submundo, o mundo dos mortos, em busca de seu grande amor que havia morrido, com a ajuda do deus Hermes que tinha livre passagem entre os mundos e lhe indica o caminho. Com ajuda de Caronte (personagem responsável por carregar as almas dos recém mortos) atravessa os rios que são os limites entre os dois mundos, conseguindo assim entrar vivo no submundo. Enfrentou diversos obstáculos e monstros, os vencendo sempre através de sua principal arma: a música que encantava e acalmava seus inimigos.

Orfeu enfrentando Cérbero, defensor do portão do submundo.

No submundo após encontrar com Hades e Perséfone irados com a vinda de um vivo ao submundo, Orfeu toca sua lira e os convence deixar-lo levar de volta sua amada Eurídice de volta a luz com uma condição, que não olhasse para o rosto de Eurídice até que saísse do submundo. Por algumas vezes Orfeu tem a necessidade de olhar para o rosto da mulher, o que suportou muitas vezes. Porém no ultimo minuto, ao avista luz, olha para Eurídice e a vê sendo levada de volta ao submundo, toda caverna começa a estremecer e um enorme rochedo bloqueia sua chance de descer ao submundo novamente. Volta do submundo sozinho, e passa a ajudar as pessoas em seus problemas e dificuldades com sua sabedoria e conhecimento adquiridas com sua experiência no submundo. As pessoas queriam escutar e absorver a sabedoria daquele que conheceu as trevas e depois voltou a luz.

A história de Orfeu, assim como toda a mitologia grega, segue um padrão de símbolos arquetípicos que representam estados da psique humana e fases da nossa vida. O submundo é o nosso inconsciente, o lado da nossa psique que devemos conhecer e enfrentar para nos tornarmos conscientes de todos os atos, pois o inconsciente é instintivo. E só sendo conscientes de nossos atos para sermos livres, pois se somos instintivos não controlamos nossas ações e palavras. O combate de Orfeu contra Cérberos e todos os outros desafios representam o reconhecimento e o combate a todos nossos defeitos. É a mesma história de transformar Chumbo em Ouro, o material pesado que são os defeitos, se tornam virtudes. Esse fenômeno psicológico pode ser chamado de Morte e Renascimento Psicológico. E não morte e renascimento literais. O reconhecimento e combate dos próprios defeitos é o mais difícil e completo trabalho que podemos realizar durante uma vida. E para isso deve-se pensar em melhorar e aprender mais sobre todo o mundo que o cerca. E a preguiça muitas vezes não deixam as pessoas adentrarem seu submundo e participar de suas próprias aventuras.

Assim o mistério foi criado ao redor da mitologia desse "homem". Não muito diferente do que é feito com a celebração da Missa Católica com os símbolos da ressurreição Jesus. Pois os mistérios oríficos também representavam a morte e ressurreição daquele que estava sendo iniciado em seus ciclos internos.

Os mistérios oríficos foram testemunhados e transcritos por Heródoto, Eurípides e Platão. No pensamento oríficos, Dionísio (outro personagem que adentrou o submundo e saiu vivo) representava a verdade esotérica, só revelada após o processo de morte e ressurreição, e era representado através de rituais (como encenações ou teatros) pela pessoa estaria sendo iniciada nos mistérios. Tais rituais simbolizavam a morte e passagem ao submundo, além de serem ensinados sobre a reencarnação para evolução da alma. Nos sarcófagos feitos aos membros desse mistério, eram postos inscrições de como o morto deveria agir no mundo após a morte. Não diferente do que era feito com o Livro dos Mortos no Egito.

Uma inscrição interessante encontrada nesses manuscritos oríficos é: "Agora você está morto, e agora você renasce neste mesmo dia, três vezes abençoado. Diga a Perséfone que o próprio Dionísio redimiu você". Claro que diferente dos cristão modernos, os gregos não lavaram tais ensinamentos ao pé da letra, e sim simbolicamente/psiquicamente, representando que devemos morrer para os nossos defeitos e voltar como pessoas melhores, ou três vezes abençoado. Persérfone é a deusa da agricultura, esposa de Hades que Orfeu encontrou no submundo, e Dionísio é um dos heróis que conseguiu ir e sair vivo do submundo, que é representado simbolicamente pela jornada que o iniciado nos mistérios de Orfeu passará simbolicamente para que morra e renasça. Também não diferente dos rituais da Maçonaria Simbólica.

Origem dos Quatro Elementos

Foi por um iniciado nos mistérios oríficos que foi escrito e definido a teoria dos quatro elementos, tal como temos hoje em toda filosofia hermética, no século V a.C por Empédocles, filósofo, médico e professor, e era atribuído a ele certos poderes mágicos. Era um grande cientista para época.
Empédocles, apontando para o Céu
e para Terra. Sinal referente a "Em cima
como em baixo", encontrado em muitas
pinturas que se referem a esse princípio
hermético.

Aristóteles elogiou Empédocles em sua obra, quando disse que tal homem foi brilhante ao descrever a interação dos quatro elementos e como estes se ordenam para criar tudo que existe no Universo em suas infinitas variações, já que os elementos são puros e não se misturam, precisam de poderes para trazer essa mistura e/ou separação. Tais poderes são a atração e a repulsão, descrito por ele como Amor/atração que une os elementos num único e Ódio/repulsão que os separa. 

Através de suas observações sobre atração e repulsão, percebeu que "Sobrevive aquele que é mais capacitado", pois você sobreviverá numa flora/sociedade a qual seja semelhante à sua natureza e modo de viver. 2460 anos depois, Charles Darwin o saudou por ter sido o primeiro a observar a seleção natural.

A partir de Empédocles o conhecimento dos Quatro Elemento veio até nós. O Fogo, Água, Ar e Terra. Evoluiu, foi melhor estudado e sendo cada vez mais aplicado na teoria e na prática do Ocultismo. 

As doze energias do Céu, ou zodíaco, foram separadas entre os quatro elementos (três signos de cada elemento). Os pontos cardeais foram identificados com os elementos. Na idade média os alquimistas aplicaram a teoria dos quatro elementos para desenvolver os Arcanos da Corte do Tarot. Os Cabalistas Judeus desenvolveram o nome divino YHVH (Yeveh) através dessa percepção. E assim por diante. Até chegarmos ao psiquiatra fundador da Psicologia Analítica, Carl Gustav Jung, que percebeu que os Tipos Psicológicos correspondiam as idéias dos símbolos dos quatro elementos . E através dele foi revelado à ciência psicológica o mundo do Inconsciente Coletivo atuando na psique humana pelos dos Arquétipos Universais, dos quais todas as mitologias antigas são identificadas e interpretadas. Cada tipo psicológico possui uma função da psique em destaque e uma menos desenvolvida. No próximo post analisaremos cada uma de suas funções e sua relação com a Astrologia. São elas:

Bússola da Psique. Tem a mesma posição
dos elementos desenvolvida por Empédocles.
Elemento - Temperamento - Função da psique em destaque
Fogo - Colérico - Intuição
Água - Fleumático - Emoção
Ar - Sanguíneo - Pensamento
Terra - Melancólico - Sensação

Esses elementos também são os quatro naipes do Tarot e também os quatro naipes do baralho atual, Paus/Fogo, Copas/Água, Espadas/Ar e Ouros/Terra. Está captando que todos os assuntos se cruzam? Matemática pitagórica, templos egípcios e gregos, mitologia, psicologia, Tarot e ser humano? E tudo só vai aumentando. Afinal, o que está em cima é como o que está em baixo. Em caso de dúvidas, deixem nos comentários.

Prática

Crie seu mapa astral com as informações do seu nascimento no site www.astro.com e anote quais são os signos dos seus principais planetas (Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno) e anote quantos são de cada elemento, que nos próximos posts seremos capaz de analisarmos seu Tipo Psicológico através da Astrologia, mostrando aonde estão seus pontos fortes e fracos. Eis o poder do Ocultismo: estudar o Universo e a Natureza e conhecer Homem e sua mente. A união das ciências, tal como era feito nos mistérios antigos.


Leonardo Cestari Lacerda
Petrópolis, RJ - 21/04/2012, sol em Touro, lua em Touro.

Um comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...